TEMPORAL Cenário de guerra: inundação derruba muros e arrasta parede para dentro de córrego em Santa Luzia
Moradores do Conjunto Palmital trabalham para limpar casas e pensam em como refazer a vida
Em filmes, documentários e reportagens sobre guerras, é comum ver cenas de casas parcialmente derrubadas, com paredes e muros destruídos e espalhados pelo chão, além do interior das casas totalmente exposto. Mas, nesta quinta-feira (30), foi possível ver esse cenário de outra maneira: caminhando pelo Conjunto Palmital, em Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte. O que deixou esse rastro de destruição em pelo menos sete casas, no entanto, não foi uma guerra, mas sim a inundação de um córrego próximo às ruas Inácio de Loiola Oliveira e Valdivino de Oliveira.Chegando ao local, a reportagem de O TEMPO encontrou os moradores em um grande mutirão. Rodos, vassouras e sacos de lixo nas mãos para higienizar as casas sujas de lama e descartar itens que, danificados pela água, já não servem mais. Entre eles estava o trabalhador autônomo Cristiano dos Santos, de 42 anos.Em depoimento à reportagem, ele relatou os momentos de tensão que viveu em casa na hora da inundação. A chuva forte começou por volta das 19h. "Logo começou a inundar tudo. Estourou o portão, derrubou meu muro. Perdi cama, fogão, panela, meu banheiro ficou arrebentado. E eu trabalho por conta própria em casa, sou técnico de eletrodomésticos. Perdi micro-ondas, ventiladores. A água levou tudo, e vou ter que pagar os clientes", lamenta.
Cristiano conta também que precisou salvar um vizinho que mora na casa dos fundos para que ele não fosse levado pela enxurrada. "Eu moro em cima, e ele embaixo. Vi que a água estava inundando e que a casa ia alagar. Coloquei uma escada e o chamei para subir", relembra.
Logo na entrada da casa do desempregado Arilson Rodrigues, de 65 anos, era possível ver a devastação causada pela cheia. A porta da casa estava tomada pela lama. Pela altura que a água atingiu, ele precisou deixar o imóvel para não ser levado pela enxurrada.
"Lá dentro, a água atingiu 1,20 metro. Eu esperei até ela chegar acima do joelho. Depois, tive que sair pelos fundos. Se não, a enxurrada ia me matar dentro de casa. E o medo da casa cair em cima da gente? Já aconteceu muita casa caindo aqui. No ano passado, uma casa caiu e matou um senhor", relata o homem, que teve parte da casa parcialmente derrubada devido à chuva."O prejuízo é de cerca de R$ 10 mil. Agora é trabalhar e recuperar o que perdemos", resigna-se.
Desempregada, Ana Paula Bertolini, de 42 anos, mora com mais seis pessoas e viveu momentos de dificuldade durante a cheia. A casa dela foi invadida pela água, que atingiu mais de 1,5 metro de altura. Tudo isso com uma mulher grávida e uma pessoa idosa em casa.
"A gente não tem para onde correr, porque um lado é muro, atrás é muro e do outro lado também é muro. A única passagem é pela frente, que estava inundada. Eu coloquei o sofá atrás da porta para impedir a entrada da água, porque, se a porta abrisse, a água ia levar tudo. Fiquei atrás do sofá empurrando até a chuva baixar", conta a mulher, que perdeu roupas, alimentos e alguns móveisMoradora do local há 30 anos, Ana afirma que a situação é tão frequente que ela já sabe como agir em caso de chuva, o que a deixa revoltada. "A gente cobra dos órgãos públicos uma resposta, uma ajuda, uma melhoria que pedimos em relação a esse córrego. E todo ano é a mesma coisa. Sempre dizem que os cofres públicos estão vazios. Quando vem chuva, a gente já entra em desespero", resume a mulher, enquanto observava o céu novamente ficando escuro.
O TEMPO solicitou um posicionamento da Prefeitura de Santa Luzia e aguarda retorno. Esta reportagem será atualizada em caso de resposta.
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